segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O poder da barganha

Antes de vir morar em Beijing, li e ouvi falar muito sobre a arte de barganhar por aqui. É impossível ir a um mercado e não sair pechinchando uma redução de preço. E quando falo em preço mais baixo, falo numa redução absurda! Quer um exemplo? Meu marido entrou numa loja de camisas sociais masculinas – Armani, Polo, Dior, etc – no Silk Market, o Mercado da Seda, que vende de tudo, roupas, sapatos, brinquedos, artigos de decoração, relógios, eletrônicos, bolsas...e a vendedora disse que qualquer marca custava 230 Renminbi. Ele foi logo dizendo “tai gui la”, que significa “muito caro”. Falar em chinês faz com que eles não aumentem tanto o preço. Se você chegar falando em inglês, o preço oferecido é ainda maior. Você pode até, depois do início da negociação, falar em inglês, mas a dica é chegar falando na língua deles e sempre com um sorriso no rosto. Mas, continuando: como ele não aceitou o valor, a jovem chinesinha pediu que ele fizesse o preço. Ele disse “30” e ela baixou para 150. Veja como o preço cai vertiginosamente. Chega a ser ridículo. O Tuninho insistiu nos 30, até que ela disse que o menor preço que podia fazer era 60. Incrível, não? Eu entrei na negociação e ainda pedi pra ela fazer duas por 100, no que ela aceitou numa boa. Escolhemos as camisas, pegamos o cartão da loja e garantimos pra ela que vamos ficar fregueses e que voltaremos para comprar mais. Ela, toda risonha, agradeceu.

Mas nem sempre os chineses são tão simpáticos e fáceis nas negociações. A Amanda está querendo uma blusa de cashmere da Abercrombie, bem bonitinha. Entramos em várias lojas e pechinchamos os preços que variavam de 180 a 250. Sempre insistimos em “30”, um valor que se aproxima muito daquele que eles costumam vender - a dica é dividir o preço dado por 10. Mas na esperança de conseguirem bem mais, jeles ogam os preços lá pra cima – ainda mais que estamos em pleno Ano Novo Chinês, com a cidade cheia de turistas. Estávamos dispostos a pagar até 40 renminbi pela blusa e conseguimos chegar aos 50. Só que tem vendedor que faz cara feia, nos expulsa da loja, começa a dizer um monte de coisa e não aceita baixar muito o preço. Tem um chinês que já não quer ver nem a cara da Amanda, que já passou na loja dele umas três vezes com as amigas. Ele é duro na queda e chegou a dizer pra gente não aparecer mais por ali. Tá se achando o dono do Silk Market? Mas é assim mesmo. Se não barganhar vai pagar muito mais. Você pode até estar pensando: poxa, vocês oferecem 30, eles chegam a 50 e vocês não compram? Sei que a diferença disso, em real, é de aproximadamente 5 reais, mas se aceitarmos pagar caro, a vantagem de comprar nesses mercados não vai existir mais. E, não se esqueça: o produto é fake e baratinho, mesmo.

Não compramos dessa vez? Tudo bem, é uma boa desculpa para voltar outro dia e se divertir barganhando com os chineses. Afinal, temos ainda muito tempo pela frente, e o Silk Market está a uns 500 metros aqui de casa!
Silk Market, o Mercado da Seda. Cerca de 1500 lojas dos mais variados produtos.
Dentro do Silk Market. Divida por 10 o preço dado pelo vendedor e dê início a barganha.


Um pouco da Cultura Chinesa

É comum ao andar por Beijing se deparar com essas esculturas abaixo.

Leão de Guarda

Leoa de Guarda
 

Elas representam os Cães de Fu, também conhecidos como Cães de Buda, Leões Chineses ou Leões Coreanos e Leões de Guarda. De origem budista, eles simbolizam a proteção contra os maus espíritos que queiram atrapalhar a tranqüilidade do lugar que guardam.

O macho, sempre do lado esquerdo, tem sua pata direita sobre uma bola, esfera ou mundo, simbolizando o domínio do proprietário sobre o seu reino.

Já a fêmea, sempre do lado direito, tem sua pata esquerda sobre uma cria, simbolizando o instinto de proteção maternal.

Resumindo, os leões de guarda dão o seguinte recado: “Coragem, soberania e força protegem esse ambiente”.

Entrando numa fria, mas no bom sentido – 2ª parte

Depois do resort em Badaling fomos jantar numa cidadezinha perto, que não guardei o nome. À mesa, só comidas típicas chinesas: frango, carne de porco, arroz, camarão, peixe, legumes, sopa... provei quase tudo e gostei, apesar de alguns pratos serem picantes. O sucesso ficou por conta da cabeça do frango, que os chineses costumam comer. A garotada fez a festa, espetando a bichinha e desafiando uns aos outros, quem iria comer. Um dos rapazes comeu a crista! Argh!

Esperamos a noite cair para ir ao 26º Festival das Lâmpadas e do Gelo no desfiladeiro de  Long Qing, em Yanqing. De longe o visual já é bonito, com as montanhas iluminadas, como se fossem a Muralha da China. Enormes ideogramas chineses também enfeitem os montes.

Quando saímos do ônibus encaramos um frio enorme. A temperatura estava em torno de -11 graus. Mas valeu a pena. As esculturas de gelo, vindas da cidade de Harbin, são muito bonitas. O trabalho feito no gelo é incrível. Só pra registrar: Harbin é a chamada “Cidade do Gelo”, que fica no nordeste da China. Nessa época do ano, os termômetros por lá chegam a marcar -40 graus!

Passeamos por entre as esculturas, tiramos fotos, deslizamos em tobogãs de gelo e quase morremos de frio, apesar de toda a roupa apropriada que usávamos. Ficamos imaginando como deve ser cruel em Harbin.

Alguns, do grupo, já visitaram o desfiladeiro de Long Qing no verão. Disseram que é muito bonito, que dá pra andar de barco perto da barragem. Mais um evento pra marcar no calendário.

Mas a diversão veio no final. Para voltarmos para o estacionamento, onde nosso ônibus havia ficado, era preciso pegar um pequeno veículo aberto, como os dos Parques da Disney. Só que nos Estados Unidos, o trenzinho para, você entra, senta calmamente, as crianças não podem viajar na ponta ou desacompanhadas, ninguém pode ir no colo, ou colocar parte do corpo para fora...é tudo organizado. O veículo só sai quando um funcionário dá o “ok” para o motorista lá na frente. Bem, aqui na China a coisa é bem diferente. O primeiro mini-ônibus nem chegou a parar e um bando de chineses pulou, literalmente, pra dentro do veículo. Ficamos ali, com caras de patetas, vendo a esperteza da turma de olhinhos puxados. Ah, mas eles brincaram com fogo! Quando o ônibus seguinte se aproximou, foi um tal de pular pra dentro do veículo, com ele ainda em movimento. Mas não coube todo o grupo e o jeito foi esperar o próximo. Fui para o outro lado da pista e quando o mini-ônibus se aproximou, me joguei no colo da Ingrid, porque era o único lugar vago. Outros também foram no colo dos outros, pernas balançando para o lado de fora, como eu. Vale tudo! Minhas pernas quase congelaram por causa do vento. E a sensação de que ia cair dali, com o carro andando? Minha mochila, que estava nas costas, ficou esbarrando na motorista, que começou a me empurrar e a falar um monte de coisas em chinês. Eu não estava nem aí, não entendia nada, mesmo! Já que a bagunça era completa, demos alguns “u-hus” ao longo do caminho e eu gritei “Argentina”, afinal, brasileiro é povo comportado, certo? Brincadeiras à parte, gente, é inacreditável o que aconteceu pra pegar esses mini-ônibus. Não há a mínima segurança e vale tudo. Vence quem é mais esperto. Se ficar esperando o veículo parar direitinho, vai ficar no frio a noite toda e não vai conseguir voltar para o estacionamento, só se for caminhando. Se me contassem, eu não acreditava!
FOTOS DO PASSEIO

Fartura à mesa


Visual das Montanhas

Descendo no tobogã de gelo

Escultura de gelo

Esculturas em gelo









Entrando numa fria, mas no bom sentido – 1ª parte

No sábado fomos, juntos com vários amigos, conhecer dois pontos turísticos aqui perto de Beijing: o Badaling Ski Resort e o 26º Festival das Lâmpadas e do Gelo no desfiladeiro de  Long Qing, em Yanqing.

Até nossa primeira parada levamos cerca de uma hora numa estrada muito boa. No caminho, avistamos três seções ou passos da Muralha da China, o mais famoso deles o de Badaling, que é a parte mais visitada da muralha (um passeio certo para outra ocasião).

No resort a diversão foi total. Para mim e minhas filhas foi o primeiro contato com a neve. Tudo bem que é uma coisa meio “fake” – o que será que não é fake em se tratando de China? – porque ao redor do resort não há um pingo de neve.

Colocar a roupa e se adaptar ao peso das botas do equipamento foram nossos primeiros desafios. Parecia uma astronauta andando na lua... aqueles passos grandes, todos desengonçados. Pegamos os esquis e lá fomos nós, eu e Gigi. A Amanda, adolescente, sumiu com os amigos. Já meu marido ficou com a turma que não quis esquiar. Ficaram só na cervejinha e encarregados de tirar as fotos.

Colocar os esquis, no início, foi difícil, porque dava medo de cair estatelada no chão. Mas depois que se pega o jeito é até fácil. Equipadas, eu e Gigi demos os primeiros passos na pista de neve. Bem legal. Nos equilibramos bem e fomos nos movendo com a ajuda dos bastões. Depois de algum tempo decidimos nos arriscar na rampa menor, a de iniciantes. “Iniciantes”: acreditei nisso e me empolguei. Para ir ao topo da pista é preciso subir uma esteira rolante. Até aí tudo bem. Só que ao sair lá em cima, perdi o equilíbrio e caí no chão. Ai, meu braço. Que dor. É, a neve é dura! Gigi, na frente, parecia uma “expert” e saiu direitinho da rampa. Sorte a minha que um chinês do resort me ajudou a levantar e a recolocar o esqui do pé direito, que saiu com a queda. Quando eu já estava em pé, levei uma trombada de duas chinesas que saíam da rampa. Quase fui ao chão novamente.

Passado o mico, me preparei para descer a rampa com a Gigi. Só que peguei embalo e lá fui eu ladeira abaixo, numa velocidade que pra mim parecia enorme. E o medo de cair ali? A dor da queda anterior ainda era grande e fiquei imaginando que podia me quebrar toda se caísse naquela velocidade. Na verdade não estava tão rápido assim, mas a sensação não era nada boa. Pior de tudo foi ouvir a Gigi dando gritinhos atrás de mim – e eu sem poder me virar para olhar. Se ela caísse eu não teria como parar ali no meio para ajudá-la. O coração de mãe ficou na boca. Que loucura. Quando comecei a me aproximar do final da pista, vi um bando de chineses na minha frente e achei que faria um “strike”. Como se freia nessa coisa? Virei o bico dos esquis para dentro e a velocidade diminuiu. Ufa, cheguei inteira! Olhei para trás e lá vinha a Gigi, como uma profissional, deslizando devagarinho, equilibrada e dando seus gritinhos charmosos. Muito fofa! Já tô até pensando em inscrevê-la, no futuro, numa Olimpíada de Inverno!!!!

Depois da experiência na pista pequena, nem me arrisquei na pista média e muito menos da grandona. Eu certamente ia sair rolando, com esqui voando pra tudo quanto era lado. Resolvi ficar deslizando na parte plana: era bem mais seguro.

Outra atração no resort é uma rampa onde se desce dentro de uma boia. Um bobsled  popular, digamos assim. Entrei e a Gigi sentou no meu colo. A boia tem um fundo e sobre ele um papelão. Na subida, ela vai presa a um cabo. Meu bumbum foi deslizando e batendo o tempo todo na neve. Bom pra celulite! Na parte alta o cabo se solta sozinho e lá vamos nós, colina abaixo. A boia pega uma velocidade enorme e vai girando, de um lado para o outro, batendo de encontro às paredes de gelo. A sensação é de que você vai sair voando, cuspido da boia. Já viram que gostamos de coisas radicais, não é? Apesar do sacolejo e de bater aqui e ali, gostamos e fomos uma segunda vez, o que é sempre melhor, já que o susto inicial já ficou para trás.

Na hora de ir embora, mais uma olhadinha para as pistas e a promessa de retornar um dia, para aprimorar as habilidades de esquiar na neve.
FOTOS DO PASSEIO
Muralha da China
Uma das seções da Muralha da China

Brasileiros no Badaling Ski Resort


Descendo com a Giovanna na boia

Das três, só a Gigi não caiu
Gigi brincando com a pedra de neve
Família Caputo no Badaling Ski Resort






sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tem gosto pra tudo

Até bem pouco tempo atrás, o meio de transporte mais utilizado por aqui era a bicicleta. Atualmente elas ainda são milhões, mas dividem espaço nas grandes metrópoles com os carros, que também se contam aos milhões, e muitos milhões em se tratando de China.

A China evoluiu, se modernizou, e os chineses começaram a enriquecer. A pobreza ainda é grande no interior, mas a capital parece um paraíso dos riquinhos. Basta dar uma olhada nos carros ao redor: BMW, Mercedes, Porsche, Audi, Chrysler, Ferrari, Lamborghini, só para citar algumas marcas poderosas. Mas ter dinheiro por aqui, como em qualquer parte do mundo, não quer dizer ter bom gosto. Dá uma olhadinha na foto abaixo: um BMW rosa! Não é possível ver na foto, mas a pintura do carro é toda brilhante, como se fosse cheia de cristais. Existe gosto pra tudo, não é mesmo?

Superstição com números

Uma das coisas que pude comprovar nesses primeiros dias aqui na China é a aversão dos chineses a alguns números, principalmente o 4. A pronúncia do número 4 (sì) é muito parecida com a da palavra “morte” (sǐ). Por causa disso, os andares terminados em 4 não existem na maioria dos edifícios - confira na foto abaixo, o painel de um dos elevadores do prédio onde moramos.
Como não temos problemas com números, nosso apartamento é o 604, mas eles o identificam como 6D (“D”, a quarta letra do alfabeto). Certamente o chinês dono desse imóvel pagou bem barato por ele.
O número 13 também não é bem visto, mas aqui a superstição é herdada dos ocidentais – por via das dúvidas eles preferem não arriscar.

Já o número 8 é o xodó dos chineses, porque foneticamente é parecido com “prosperidade” - oito é /ba/ e fortuna é /fa/.  Em alguns dialetos regionais aqui na China, como o cantonês, “oito” (baat) e “fortuna” (faat) se confundem.

Um exemplo do apreço da turminha de olhos puxados pelo número 8 foi a cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, que começou às 8 horas e 8 minutos da noite do dia 08 de agosto de 2008. Ah, esses chineses!




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fartura em Beijing


Conhecendo uma das maravilhas de Beijing, o restaurante Tairyo Teppanyaki. Você escolhe os pratos e o cozinheiro prepara tudo na sua frente, em uma enorme chapa. Aqui tinha, bacalhau fresco, camarão, salmão, filé mignon, lulas, costelinha de carneiro, mariscos, arroz, sushi...


... e, para finalizar, banana com sorvete de creme. Flambada na hora! Tudo delicioso! Melhor ainda o preço: cerca de 45 reais o rodízio, incluindo a bebida - cerveja, vinho, refrigerante, etc.  Pode repetir quantas vezes quiser e aguentar!!

Poluição


As termoelétricas espalhadas por Beijing ajudam a poluir ainda mais o ar da cidade. Nesse dia o céu estava limpo, o que é uma raridade por aqui.

Prédio da CCTV - China Central Television - em Beijing



O prédio da tv estatal chinesa em Beijing é uma das atrações da cidade. Uma genialidade da engenharia moderna. Muitos o apelidam de "abridor de garrafa"

Problemas com o tom

Não pensem que estou tendo alguma dificuldade com alguém chamado Tom. Reparem que no título a palavra “tom” está em letra minúscula. O “tom” em questão é a entonação das palavras do mandarim. Êta coisinha difícil! Agora, imagina alguém que sabe pouquíssimo de chinês errando o tom? Pior ainda, não é mesmo? Pois isso está acontecendo comigo.

Vamos por partes. Na língua chinesa uma mesma sílaba pode ter diversos significados, dependendo da entonação ou do tom utilizado. A China usa um sistema oficial de transcrição fonética aceito internacionalmente. É o chamado Pinyin, que foi desenvolvido no final de 1950. O Chinês utiliza quatro tons e um tom neutro. São eles:

Tom
Baliza
Descrição
Alto e nivelado
Começa em tom mediano, então sobe até o topo
Começa de médio para baixo, desce até embaixo e então sobe até o topo
Começa no topo, então desce rápido e forte até embaixo
Neutro
da
plano, sem ênfase


Pra complicar, o 3ª tom, quando imediatamente seguido de um outro 3ª tom, deve ser pronunciado no 2ª tom. Exemplo:

Nǐ hǎo = Ní hǎo (Olá)

Complicado, não é?

Mas não estou aqui pra dar aula de chinês, quem sou eu pra isso. Como disse lá em cima, me enrolei com o tom. Bem aqui ao lado do condomínio onde moramos tem um mercadinho que “safa” bem as principais necessidades. Tem um pouquinho de tudo. Entrei para fazer umas comprinhas e depois de muito procurar, não achei o açúcar. Peguei o celular, liguei para a Amanda e pedi que olhasse no dicionário, como se falava açúcar em chinês. Ela me disse “tang”. Tolinha, me virei pra uma das moças do mercado e pedi “Nimen you tang ma?” (Vocês têm açúcar?). A mulher me olhou com cara de espanto, demonstrando que não estava entendendo nada – e também não fez nenhum esforço pra entender. Fiquei pensando como sair daquela situação. Mandei um “kafei” e fiz como se colocasse açúcar no café, apelando para o “mimiquês”. A mulher começou a falar “kafei, kafei”, achando que eu queria café. Ai, caramba! Eu disse, então, “bu, bu kafei”, que não queria café. Piorei as coisas em vez de melhorar. Gente, cheguei a conclusão de que por aqui o pessoal não costuma brincar de mímica. Por sorte o rapaz que estava no caixa veio ajudar. Eu mandei um “tang” novamente e ele também não entendeu. Perguntei então se ele falava inglês e pedi “sugar”. Ah! Finalmente fui entendida. Ele pegou um saco de açúcar e me deu. Feliz, mas não satisfeita, perguntei pra ele como se fala açúcar em chinês. Sabe o que ele me disse? “Tang”! Tive vontade de sair xingando dentro do mercado, afinal, ninguém ia me entender mesmo. Mas resumindo toda a confusão: o “tang” pronunciado por ele foi o “táng”, no 2º tom, algo como se ele estivesse com dor de barriga “TÂÂâânn”. Não vi nenhuma diferença para o meu “tang”, mas pra eles, eu desafinei feio do tom!

Pra piorar ainda mais a situação, os chineses que vivem em Beijing tem um sotaque puxado para o “r”, no final das palavras. A professora de chinês no Brasil já havia alertado para isso. É como se eles falassem como os goianos e os paulistas no interior – “interiôur”. Exemplo: tem um bairro aqui, o Sanlintun, que eles falam “sanlintur”, com aquele “r” puxadinho no final.

É isso. Vivendo e aprendendo aqui do outro lado do mundo. Mas vou continuar insistindo no meu pobre chinês, pra daqui a alguns meses estar trocando boas idéias com a turma de olhinhos puxados. Zài jiàn! (tchau)

obs.: quem estiver interessado em aprender um pouco de chinês, visite o site http://www.a-china.info

“Chun jie kuai le!” Feliz Ano Novo!

Aqui na China está começando o Festival da Primavera, mais conhecido como o Ano Novo Chinês, a época mais importante do ano para os chineses. É uma mistura do nosso Natal com o nosso Ano Novo. Assim como fazemos, eles reúnem a família para uma deliciosa ceia de véspera. A grande maioria deixa a cidade grande e vai para o interior rever os pais, levar dinheiro e presentes. O país para por cerca de 15 dias. Os chineses não costumam ter férias no trabalho, por isso aproveitam ao máximo esses dias de folga. Ao longo do Festival, os chineses realizam diversas atividades culturais e recreativas, seguindo suas mais antigas tradições.

Antigamente, quando a China usava o calendário lunar, o primeiro dia do primeiro mês, a Festa da Primavera, se chamava “Ano Novo”. Depois da revolução de 1911, o país passou a usar o calendário gregoriano, assim como nós ocidentais. O ano novo chinês não tem uma data fixa no calendário gregoriano, variando entre o final de janeiro e meados de fevereiro. O último dia do festival do Ano Novo Chinês é o 15º dia do primeiro mês lunar, quando é comemorado o Festival da Lanterna – na ocasião entro em mais detalhes sobre o assunto. O Festival da Lanterna será no dia 06 de fevereiro.

Hoje, dia 23 de janeiro, pelo calendário lunar chinês, é o primeiro dia do ano 4010. Ontem, durante todo o dia e, principalmente, à meia-noite, o céu de Beijing foi tomado pelos fogos de artifício. Foram horas e horas de muita luz e cores. Uma comemoração muito bonita, que me lembrou Copacabana. Só que a quantidade de fogos é muito maior por aqui! E olha que em alguns locais é proibido soltar fogos. Mas quem disse que os chineses respeitam isso? Na maior cara de pau eles soltam seu rojões bem em frente às placas. A polícia passa perto, mas não faz nada. Imagina se ia ter cadeia pra todo mundo?

2012 é o ano do dragão, uma das figuras mais importantes do horóscopo chinês. Os chineses relacionam cada ano a doze animais que teriam atendido ao chamado de Buda para uma reunião. Os doze animais são: rato, búfalo/boi, tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco. Ano passado foi o ano do coelho, então, pela ordem, esse é o ano do dragão.

De acordo com os astrólogos orientais, o ano do dragão é uma boa época para se fazer reformas, progressos e mudanças. Oba, tô por aqui!

É um ano bom para se casar, ter filhos, iniciar uma atividade nova, já que o dragão também traz sorte e felicidade, segundo os chineses.

Mas, por outro lado,como é um ano ligado a água e a terra, os adivinhos de plantão também prevêem desastres naturais como terremotos e inundações. Ai, já quero voltar!

Está dando pra entender, então, porque o dragão é o animal mais esperado e ao mesmo tempo temido pelos chineses que esperam esse ano novo com um misto de esperança e cautela.

Mas que só venham as coisas boas! E como já sou “quase chinesa” comprei no Carrefour um dragãozinho de pelúcia para minha filha mais nova. E viva o Ano Novo Chinês!!!

Supermercado em Beijing

No post anterior prometi contar como foi a primeira experiência num supermercado chinês. Na verdade foi no Carrefour. A aventura começou para chegar lá. No dia anterior, por volta de 4 da tarde, eu e meu marido fomos tentar pegar um táxi para ir ao Wallmart. Ficamos cerca de uma hora num frio danado, e nada de táxi vazio. Ou então, quando fazíamos sinal eles acenavam, como quem dá tchauzinho – a maneira deles dizerem que “não”, e nos ignoravam, pegando o chinês que estava logo à frente. O que eles têm contra estrangeiro? Como o frio aumentava, resolvemos desistir e voltar pra casa.

No dia seguinte acordamos cedo e fomos tentar mais uma vez pegar o maldito táxi. Desta vez decidimos mudar o destino. Escolhemos o Carrefour, que fica mais perto de casa. Para nossa surpresa um carro parou logo de cara. No meu modesto chinês mandei um “Women xiangyao qu Calefur” (Nós queremos ir ao Carrefour). Devo ter falado com sotaque russo ou alemão, porque o chinês não entendeu bulhufas. Insisti “Calefur” e nada. Ele fez sinal para que ligássemos para alguém. A solução foi telefonar para a intérprete da adidância. Logo ela estava ao telefone explicando pra ele aonde queríamos ir. Ele nos passou o telefone e disse “tchalefur”. Grande diferença, não é mesmo? Mas o que importa é que chegamos lá. E o táxi foi baratinho, cerca de 4 reais numa corrida que no Brasil daria uns 20.

Quando cheguei ao Carrefour tive vontade de sair correndo. O que era aquilo? Tinha gente pelo ladrão. Uma coisa de louco. Mas é preciso levar em conta que estávamos às vésperas do Ano Novo Chinês, os mercados fecham e as pessoas aqui viajam para o interior, para visitarem os parentes, depois de mais um ano de muito trabalho, querem levar comida, presentes, enfeites para casa. Muito parecido com nosso Natal. Vermelho e dourado são as cores predominantes.

A situação ficou pior ainda quando olhei para os lados e vi tudo em chinês, em ideogramas. Nadinha em inglês, como acontece em alguns lugares por aqui. O jeito era ter paciência. Nosso apartamento é mobiliado, mas é preciso comprar louça, talheres, copos, roupa de cama, mesa e banho, panelas e todos os utensílios de cozinha. Uma infinidade de coisas. Fomos pegando uma coisa aqui e ali, olhando os preços – sempre tudo muito em conta – mas preocupados em como voltaríamos para casa com tanta coisa, e pior, de táxi.

Quase morri de susto na parte de carnes do mercado. Tinha uma ave depenada, toda preta, bem ao lado dos frangos. Imaginei logo que fosse urubu, já que esses chineses comem tantas coisas estranhas. Tive vontade de tirar uma foto, mas fiquei com vergonha – mas da próxima vez vou fotografar na maior cara de pau – pra mostrar o quê era aquilo. Parece que é um frango que quando depenado mostra a pele preta. Horrível!

Tentando não olhar para aquela coisa, escolhi o que queria levar – um pouco de peito de frango, coxinhas, coxas e fui para outra seção do mercado: a peixaria. Meu marido ficou louco, no bom sentido, com os camarões. Enormes e, mais uma vez, muito barato. Cerca de 10 reais o quilo. Ele foi lá e comprou, é claro. Depois ficamos olhando os peixes frescos. Gente, peixe fresco aqui significa peixe vivo! Você vai num aquário, escolhe o bichinho, “pesca” com um puçá e coloca pra pesar. O pobre fica se debatendo todo e acaba morrendo, é claro. Imagina se pra comprar galinha fosse assim também, tem que caçar a bichinha no galinheiro?

Após umas 4 horas de olha aqui e ali e com dois carrinhos atopetados de compras fomos para a fila. Não tinha fila pequena, só fila enorme! Parecíamos de outro mundo, porque os chineses olhavam para nossos carrinhos com eletrodomésticos, tábua de passar, secador de roupa, comidas e ficavam falando entre si, obviamente, da gente. Tudo bem: eu e meu marido demos o troco falando deles. Vingança!!!!!

O chinês não é de pedir licença pra nada. Vai te empurrando, cortando sua frente. Levei alguns encontrões e fui aprendendo a desviar, o que não é muito fácil, vocês podem imaginar. Já me disseram pra fazer como eles, sair empurrando, mas pretendo continuar com minha educação ocidental. Será que agüento nesses dois anos e 8 meses por aqui? Acho que não. Meu marido quis dar uma de bem educado, foi fazer sinal pra uma moça passar a nossa frente para entrar na esteira rolante e eu reclamei. Por quê? A chinesada toda foi passando e a gente ficando pra trás. Daquele jeito, não sairíamos nunca do mercado. Empurramos o carrinho e conseguimos uma vaguinha na esteira. Querer ser “gentleman” depois de 4 horas de compras, no meio de uma multidão de olhinhos puxados? Fala sério!!!

Preocupados que não fôssemos conseguir um táxi ou dois para voltarmos pra casa, recorremos ao nosso salvador aqui em Beijing: o Pixinine. Já me perguntaram quem são o Pixinine e a Ingrid. Ele é o atual adido naval e ela a esposa. Digamos que são nossos anjos da guarda por aqui, nos dando todo o apoio necessário pra esse início de vida em território chinês.

Sãos e salvos fizemos nossas primeiras “comprinhas” em Beijing. Mas ainda falta muita coisa.

Próximo post: o Ano Novo Chinês.

A loucura do trânsito

Já são quase 10 dias morando em Beijing. O tempo voa. Nos primeiros dias o foco era arrumar logo um apartamento para alugar, para sairmos do hotel e começarmos nossa nova vida. E chega de “viver” dentro das malas. Demos sorte e logo encontramos nosso cantinho. Nosso novo senhorio foi muito simpático, equipou o apto com novas TVs, colocou a mesa que pedi na copa. Engraçado foi vê-lo limpando o apto com uma caixa de lenços umedecidos. Isso mesmo. Ele limpava com uma carinha de satisfação, como quem mostrava que estava deixando tudo “nos trinques” pra gente. É claro que a faxina foi grande, quando entramos. Ainda hoje ainda falta o que fazer, mas vamos arrumando tudo aos poucos.

O que mais chamou minha atenção nesses primeiros dias? O trânsito caótico em Beijing. Os chineses ainda precisam aprender muito sobre as leis de trânsito. Até tive uma discussão, no bom sentido, com a minha filha mais velha, quando critiquei a maneira como eles dirigem: entram na contramão, quando o sinal abre é a lei do mais forte, ou do mais esperto, pedestres atravessando sem cerimônia na frente de qualquer um. Uma verdadeira loucura. Minha filha argumentou que pra eles esse é o modo certo. Meu Deus me ajude! É muito carro e pode-se levar uma hora para percorrer um trecho em que normalmente se gasta 5 minutos. O barato é ver os carros tirando fininho um do outro. Eu me encolho toda, fico achando que não vai dar pra passar, mas lá vão eles, no jeitinho chinês de dirigir.

A dica aqui, para atravessar uma rua: fique sempre atento, olhe seguidamente para todos os lados, porque do nada pode aparecer um carro, uma bicicleta, um riquixá – aqueles triciclos que carregam pessoas. Se não fizer isso você corre o sério risco de ser atropelado.

Ah, até agora só vi um ou dois chineses cuspindo no chão, ou limpando o nariz – argh – mas nada como imaginava, ou seja, cusparada pra todos os lados. A cidade é muito limpa, não se vê lixo no chão. E olha que são milhões aqui em Beijing.

O chinês não pode ficar parado que dorme. O motorista da corretora que nos mostrou os aptos dormiu em pleno engarrafamento. Quando eu vi, falei para meu marido e minhas filhas que não acreditava naquilo: o cara dormindo na minha frente. O sinal abriu e ele nem aí. Minha vontade foi cutucá-lo e avisar “moço, o sinal abriu”. A corretora estava ao telefone e nem percebeu que ele estava dormindo. Quando terminou a chamada começou a falar com ele que, aí sim, acordou e percebeu que a fila tinha andado. Uma loucura. Também já vi passageiro de táxi dormindo ao lado do motorista. E aqui eles não têm o costume de colocar o cinto de segurança, ou seja: a possibilidade de dar com a cara no vidro, numa freada, é grande. Coisas de chinês.

No próximo post vou contar um pouco da aventura de ir, pela primeira vez, ao supermercado na China. E em pleno feriado do Ano Novo Chinês? Parecia Maracanã em dia de decisão de campeonato.

Finalmente na China

Dia 05/01/2012. Chegou o grande dia. Após meses de expectativa embarcamos rumo à China. Primeira parada, Califórnia, Estados Unidos. Uma semana de diversão em alguns parques, muita montanha-russa, encontro com uma antiga amiga americana, e descanso que é bom, nenhum. Deixamos isso para mais adiante.

Dia 12/01/2012. Mais uma vez é hora de arrumar as malas, desta vez para o destino principal de nossa viagem: Pequim, ou melhor, Beijing. Foram 12 horas e meia de voo a bordo de um jumbo da Air China, sem TV, sem distração, a não ser por um telão com qualidade de imagem horrível, que passou o filme “Velozes e Furiosos 5, Operação Rio”. Após o filme, um mapa também horrível mostrava o caminho percorrido e o que faltava. Tudo em chinês é claro. Pra relaxar, perto da hora do avião pousar, um filminho com algumas dicas de relaxamento. Estica daqui, alonga dali. O voo São Paulo-Los Angeles pela Korean Air deu de 1000 a zero no da Air China.

Por volta de 5:15, horário local, de sexta-feira, dia 13/01, finalmente pousamos em solo chinês. Sem pressa, deixamos os chineses saírem na frente. Pegamos nossas coisas e lá fomos nós. O cartão de visita chinês foi o frio na porta do avião, na entrada do finger: um frio de lascar. Depois descobri que a temperatura naquele momento girava em torno de - 13º!

Na saída do finger o carinho dos amigos Ingrid e Pixinine. Se não fosse por eles acho que nos perderíamos no aeroporto. É enorme! Depois de uma boa caminhada, a passagem sem problemas pela imigração.

Mas o melhor ainda estava por vir. No saguão do aeroporto, cerca de 20 brasileiros, nossos novos amigos em Beijing, nos aguardavam com uma bandeira do Brasil – não podia faltar – flores e muito calor humano. Uma surpresa maravilhosa, emocionante e que me deixou com os olhos cheios d’água, eu confesso. Chorona que sou, me segurei ou o pessoal podia achar que eu já estava querendo voltar. Adorei a recepção.

Fomos de ônibus pra casa da Ingrid e do Pixinine que nos prepararam um belo café da manhã. A tática era tentar ficar o maior tempo possível acordado, já tentando a adaptação ao fuso chinês. É a melhor maneira de se acostumar rapidamente e não ficar trocando o dia pela noite e vice-versa.

Depois do almoço num restaurante de comida italiana, cansados, mas felizes, fomos para o hotel descansar. A aventura no outro lado do mundo estava apenas começando.


China, aqui vamos nós!!

A aventura está começando. Descobrir a China é um desafio e tanto. Até aqui foram meses de muita leitura e uma busca por tudo relacionado ao país mais populoso do planeta, com cerca de 1,3 bilhão de habitantes, ou 1/7 da população da Terra, que é o terceiro ou quarto país do mundo em área total e o segundo maior em área terrestre. Tudo relacionado à China é superlativo.

É difícil pontuar quando nasceu a civilização chinesa. Registros apontam para 4.000 a.c. Sabe-se que foi uma das primeiras do mundo. Por centenas ou milhares de anos os chineses se consideraram o Império do Meio, a principal nação de todo o mundo. Chamavam os ocidentais de "bárbaros" e tinham seu Imperador como Ser Supremo.

Atualmente a China tem a segunda maior economia do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, mas é questão de poucos anos para os chineses "dominarem" o mundo. Isso é fato. É preciso reconhecer o esforço empreendido por esse povo sofrido, que já teve tempos de glória e de declínio, e que para chegar ao patamar atual, superou inúmeras adversidades: guerras internas, externas, longos períodos de fome, milhões de mortos.

Em 1949, a China Imperial deu lugar à República, fundamentada no regime comunista e na liderança mão de ferro de Mao Tsé-Tung. Depois foi a vez de Deng Xiaoping abrir os horizontes chineses ao mundo moderno. Hoje a China não é somente um país onde se acha mão de obra barata, mas um país que exporta tecnologia de ponta, e que é capaz de criar e construir projetos que servem de modelo para todo o mundo.

A China não é o país perfeito, tem um regime de governo controverso, está longe de ser uma democracia, mas se esforça a cada dia que passa para passar de país em desenvolvimento a país desenvolvido.

Tudo isso que escrevo está nos livros que tive o prazer de ler. Agora chegou a hora de "viver" a China para poder dizer, com conhecimento de causa, se tudo ou quase tudo que li é verdade.

É hora de colocar em prática o pouco de Mandarim aprendido e de mergulhar fundo na complexidade de ideogramas, de uma cultura, hábitos e educação completamente diferentes. E de ter coragem de experimentar uma culinária pra lá de exótica. Vou tentar deixar tudo registrado aqui no Do Outro Lado do Mundo.

Viajo com o espírito preparado para essa grande aventura e com o coração já apertado de saudades daqueles que vou precisar deixar para trás: Pai e Mãe principalmente. Mas o destino quis assim e, então, vamos em frente e Ni Hao, Zhongguó ("Oi, China").

Relação dos livros lidos:

Adeus, China - O último bailarino de Mao - Lu Cunxin

Um brasileiro na China - Gilberto Scofield

Laowai - Histórias de uma repórter brasileira na China - Sonia Bridi

Guia Visual da China - Folha de São Paulo

Amante na China - Richard Amante

Os Chineses - Claudia Trevisan

As filhas sem nome - Xinran Xue

Sobre a China - Henry Kissinger