domingo, 31 de março de 2013

Mais uma Páscoa na China


Hoje é Domingo de Páscoa, mas nada aqui na China demonstra isso. A Páscoa para nós cristãos é a Morte e a Ressurreição de Cristo. Ressurreição significa vida.

Mas o quê os coelhinhos e os ovos de chocolate têm a ver com a Páscoa?

Em antigos rituais pagãos, a figura da lebre simbolizava fertilidade (vida), e estava associada à sorte. Em algumas culturas era comum a pintura de ovos cozidos – alguns países ainda mantém essa tradição. Mas com o tempo esses ovos foram substituídos por ovos de chocolate – grande sacada de alguém – e o comércio de chocolate nessa época do ano passou a ser algo fantástico! E como os homens de negócio não são bobos nem nada, começaram a colocar brindes nos ovos, começaram a fazer ovos de todos os tamanhos, brancos e pretos e por aí vai. Hoje em dia a Páscoa, assim como o Natal é, para muitos, sinônimo de “comércio”. Cabe a nós explicar para a criançada o verdadeiro sentido de cada data.

Enquanto nessa época os mercados brasileiros montam túneis de ovos de chocolate, enchendo suas prateleiras, aqui na China não há sinal de Páscoa nos supermercados. Pra não dizer que não tinha um ovo sequer, achei um ovinho do KinderOvo. O jeito foi apelar pra barra de chocolate, o que inclusive é muito mais negócio no Brasil, já que os Ovos de Páscoa estão cada vez mais com seus preços pela hora da morte!

Esse ano o coelhinho entrou aqui em casa, mas não deixou suas patinhas marcadas no chão. Ouvi dizer que ele está com dores nas costas! Mas deixou uma cenoura pra Gigi – ela adora cenoura crua – além de uma barra de chocolate e um KinderOvo. Pra Amanda ele deixou também uma barra de chocolate.

No almoço, aqui em casa, nos reunimos com os amigos Cristiane, Fernando, Melissa e Fernanda. Fiz arroz, dois pratos de bacalhau – gratinado e À Espanhola – enquanto que a Cris trouxe carne assada, maionese e farofa. Ontem as meninas já haviam preparado vários bolinhos, tipo cupcake, que comemos de sobremesa. Nada como estar com amigos pra celebrar uma data como essa. Daqui de longe espero que nossos familiares tenham tido, também, um dia abençoado!


FELIZ PÁSCOA PARA TODOS!

sábado, 30 de março de 2013

Futebol na China



O futebol chinês tem nome bonito: Chinese Super League (CSL), mas pelo que assisti ontem, ao vivo, está mais para “pelada” do que outra coisa.


Logo da Chinese Super League

Beijing Guoan e Guangzhou Evergrande se enfrentaram no Estádio dos Trabalhadores, aqui em Beijing, pela terceira rodada do campeonato 2013.
O confronto é considerado um clássico. O Guangzhou é o atual campeão nacional.

O Guoan é o time da capital e o Guangzhou o time da cidade de mesmo nome, localizada no sul da China, e mais conhecida pelos ocidentais como Cantão.

Nos últimos anos o futebol chinês pegou os bons ventos que sopram a favor da China e os clubes passaram a investir pesado no esporte. Assim como os árabes, os chineses começaram a gastar milhões para trazer para o país jogadores que pudessem dar um algo mais ao futebol nacional. Técnicos de renome também foram contratados. O Guangzhou, por exemplo, é comandado pelo italiano Marcello Lippi, técnico campeão do mundo com a Itália, na Copa de 2006, na Alemanha.

Essa semana quem esteve visitando o país foi o inglês-craque-bonitão de 37 anos, David Beckham, que é Embaixador da Superliga Chinesa de Futebol e do Programa que promove o Futebol Juvenil na China. Beckham, que atualmente joga no Paris Saint-Germain, na França, não descartou a possibilidade de num futuro próximo vir jogar por algum clube chinês.

De acordo com informações obtidas no site oficial da CSL, há 78 jogadores estrangeiros espalhados pelas 16 equipes que disputam o campeonato deste ano. Desses setenta e oito, vinte e dois são brasileiros.

A partida de ontem entre Guoan e Guangzhou estava marcada para as sete e meia da noite. Apesar do Estádio dos Trabalhadores ficar a cerca de dois quilômetros aqui de casa, saímos cedo, por volta de seis horas.

Antes de entrarmos no estádio, compramos algumas echarpes do Guoan, para incrementar o visual.

Amanda com o casaco do Guoan e eu e a Gigi com a echarpe.
Eu estava com a camisa do Brasil.

Como sempre todos são obrigados a passar por detectores de metais e têm suas mochilas e bolsas revistadas. Mas não há fila, apesar do grande número de torcedores, e é tudo muito organizado.


O ponto de revista fica embaixo dessa tenda.



Do lado de fora do estádio resolvi abrir o bandeirão do Brasil que levei comigo, para tirar algumas fotos. Logo dois seguranças chineses chegaram perto da gente e, com cara de espantados, ficaram mirando a bandeira do Brasil e do Fluminense, que minha amiga levou. Um dos guardas, uma mulher, ficou olhando o escudo do Fluminense, acho que tentando entender o que significam as letras FFC bem no meio do escudo. Acho que ficaram com medo de que estivesse escrito alguma coisa imprópria e pediram que guardássemos as bandeiras. Coisa de chinês!


Cris e eu com a bandeira do Brasiiiillllll!!!

Nisso chegou pra perto da gente uma jovem que começou a me perguntar, em inglês, porque estávamos ali para assistir um jogo de futebol do campeonato chinês. Logo ela me perguntou se eu me importava em dar uma entrevista para a CCTV, a tv estatal da China. Aceitei numa boa e respondi às perguntas, entre elas para quem eu torceria. Falei que como morava em Beijing há um ano, torceria para Guoan, o time da cidade.

Nós éramos sete pessoas – eu e as meninas (Tuninho está viajando) – mais a Cris, o Fernando, a Mel e a Fê. Apesar de estarmos com alguns “aparatos” do Guoan, o grupo estava meio dividido, já que a família Nunes, tricolor, estava com uma quedinha para torcer pelo Guangzhou, time do argentino Conca, que virou ídolo dos tricolores.

Ficamos na parte inferior das arquibancadas, bem próximos ao gramado. Só que passamos os 90 minutos do jogo em pé, porque os torcedores chineses ficaram o tempo todo levantados. Só sentaram no intervalo. Coisa de louco! E, pra piorar, algumas vezes eles sobem nas cadeiras, o que complica a visão da gente, o que nos obrigou a subir também, ou não veríamos nada. Além disso estava muito frio. Resultado: hoje estou quase que “aleijada” da coluna. A idade é um problema!


Torcendo pelo Beijing Guoan.

As meninas aguardando o início da partida.

No segundo tempo elas não aguentaram o frio e se cobriram com 
a bandeira do Brasil.


Os chineses praticamente não levam bandeiras para o estádio. Eles têm mais o estilo europeu, com suas echarpes servindo de banner.

Acho que havia umas três torcidas organizadas do Guoan e deu pra ouvir o som de alguns “batuques” e o barulho de pequenas cornetas – as vuvuzelas fizeram história.

Poucas bandeiras na torcida.

Aquecimento do time do Guoan...

...e do time do Guangzhou.

Jogadores perfilados na hora da execução do Hino Nacional da China.


Assim como no Brasil, a torcida não se contém e muitas vezes solta palavras não muito apropriadas para os jogadores adversários, para o árbitro... Ontem  o que mais ouvi foi “sha bi”, algo como “fdp” no Brasil. Houve momentos em que quase todo o estádio – exceto a pequena torcida do Guangzhou – gritou em uníssono “sha bi... sha bi”! É claro que fomos no embalo e ajudamos a engrossar o coro! Faz parte.

Pra descontrair e esquentar um pouquinho, eu e a Cris cantamos algumas musiquinhas tradicionais do futebol brasileiro e, principalmente, carioca: “Domingo... eu vou ao Maracanã...” e outras não tão bonitinhas que não vou reproduzir aqui! Essa é uma das vantagens de praticamente ninguém entender o que estamos falando.

O jogo, como disse lá em cima, foi bem fraquinho. Parecia até partida de totó: chutão pra lá, chutão pra cá. Ou então os caras insistem em carregar a bola até não dar mais. Ninguém arrisca chute de longe.

Falta a favor do Beijing Guoan.


Do lado do Guoan o melhorzinho em campo foi Kanouté, jogador de Mali. O brasileiro André Lima teve uma atuação apagada.

Do lado do Guangzhou esperávamos uma boa atuação do argentino Dario Conca, mas ele apareceu mais por reclamar toda hora – bem ao estilo latino – do que por atuar bem. O brasileiro Muriqui também nada acrescentou. Melhorzinho foi outro brasileiro, Élkesson, autor do gol de empate do Guangzhou.


Dario Conca, de camisa vermelha, mais ao centro, decepcionou.

Em alguns momentos a partida foi realmente bizarra: furadas, bicicleta mal executada, quase gol contra... um horror. Teve gol perdido que até eu fazia!! As entradas duras também foram uma constante. Teve até confusão, com empurra-empurra que acabou com um jogador do Guangzhou expulso.

O empate em um a um foi até demais. Mas pelo menos pudemos pular na hora do gol do Guoan, como se fossemos torcedores de carteirinha. Afinal, bagunça é com a gente mesmo!

Placar final: Beijing 1 x 1 Guangzhou.
O time de Dario Conca lidera o campeonato, enquanto
o Guoan está em segundo.


Os jogadores se cumprimentam no centro do gramado.


É claro que eu não esqueci de levar a bandeira do Vasco!


Amanda e Gigi na saída do estádio.




O Estádio dos Trabalhadores (Gōngrén Tǐyùcháng,  工人体育场) foi construído em 1959 e reformado em 2004. Nos Jogos Olímpicos de 2008 recebeu os jogos das quartas-de-final e das semifinais do futebol masculino e foi o palco da final feminina. Tem capacidade para pouco mais de 66 mil pessoas. Na partida de ontem o estádio não estava lotado, mas o público foi muito bom, cerca de metade de sua capacidade.  









quarta-feira, 20 de março de 2013

Fechando o Inverno com muita neve!


Beijing amanheceu branquinha por conta da nevasca que caiu durante a madrugada. Foi uma surpresa, já que estamos entrando na Primavera. É isso mesmo: enquanto no hemisfério sul o dia 21 de março marca o início do Outono, aqui pra cima, no hemisfério norte, é a vez da Primavera.

Esse início de ano está sendo bem diferente do ano passado, quando chegamos aqui. Já nevou bastante, a poluição tem encoberto a cidade quase que diariamente, os ventos da Sibéria também têm castigado a capital... Mas aí acontece isso: neva de uma hora para a outra. Apesar de nos últimos dias a temperatura estar bem baixa, a neve não era mais esperada. Afinal, já é hora do sol aparecer mais forte, deixando o céu mais azul e os parques repletos de flores.

De acordo com as agências de notícias a neve chegou a alcançar 17 centímetros de altura em alguns pontos. Eu acho até que foi mais, porque vi lugares com mais de um palmo de neve.

Segundo a Xinhua News, agência oficial de notícias aqui da China, a nevasca atingiu a cidade na data do calendário chinês chamada de Chunfen, que significa, literalmente, Equinócio da Primavera ou Equinócio Vernal, dia em que o sol está exatamente na latitude celestial de zero graus.

Equinócio é uma palavra que deriva do latim (aequinoctium), e significa “noite igual”, e refere-se ao momento do ano em que a duração do dia é igual à da noite sobre toda a Terra (http://www.astrologie.com.br/Equi_Sols.htm).

Mesmo com tanta neve lá fora, aproveitei pra sair, pra tirar algumas fotos no Ritan Park, que fica aqui pertinho de casa. Já falei sobre o Ritan no post do dia 11 de abril de 2012 – Novas Cores em Beijing. Dessa vez não eram as flores que chamavam a atenção, mas as árvores, jardins e pavilhões completamente cobertos de neve. Um cenário lindo que me rendeu fotos incríveis. Tirei quase duzentas fotos! Não dá para colocar todas aqui no blog, então fiz uma seleção: espero que gostem e apreciem esse lindo dia, o último do inverno chinês.

Os galhos ficaram repletos de neve.


Olha essa bicicleta toda coberta.


Lago que fica no lado oeste do Parque Ritan.
O reflexo das pedras no espelho d'água é incrível.


À esquerda o chamado Barco de Pedra .


O barco no detalhe.


Mais uma foto do barco. 



O lago não está mais congelado.



Pequeno pavilhão numa das pontas do lago.


Esse pavilhão, que fica na colina mais alta do parque, 
se chama Qīng huī tíng清辉亭. 


Essa senhora ficou nessa posição, parecendo uma estátua,
por mais de 10 minutos. Acho que estava meditando.
Mas que posição estranha pra meditar, não é mesmo?



Outro pequeno pavilhão do parque.


O mesmo pavilhão anterior, só que agora mais de perto.


De hoje até sexta-feira o Ritan Park organiza uma feira da primavera, 
com shows e artesanatos.


Esse senhor fazia malabarismo com um bastão com pompons nas pontas.


Já essa senhora fazia piruetas com um "diabolo".


Não podia faltar a peteca que, como já falei,
aqui na China é jogada com o pé.


Esse aqui parece até um bailarino quando rebate
a peteca com a parte detrás do pé.



Esse rapaz sorridente faz pequenas esculturas de argila.



Homem praticando Tai Chi.


É comum os chineses se reunirem nos parques
para dançar em grupo, como essas mulheres.


Também havia casais dançando valsa.


O equipamento de som estava montado nessa bicicleta.
Coisa de chinês. 


Outro grupo de mulheres dançando no parque.
Elas estavam ensaiando para alguma apresentação.


Pai e filho também aproveitaram a neve pra se divertir.



Para outros, como esse, a neve foi sinônimo
de mais trabalho.


Assim como eu, muita gente foi ao parque pra
tirar foto na neve.


Esse grupo estava bem animado.


Essas duas chinesas também pareciam
bem felizes.


Entrada do Altar Circular. O local está fechado, assim como
a Torre do Sino que fica na parte norte do parque.
Recordando, Ritan é o Altar/Templo do Sol, onde
o Imperador - na Dinastia Ming - costumava ir para
realizar rituais de sacrifícios ao Deus Sol.






segunda-feira, 11 de março de 2013

Homenagem dos Chineses ao Dia Internacional da Mulher


Bem, prosseguindo com meus posts atrasados, vamos em frente.
Na sexta-feira passada o mundo comemorou mais um Dia Internacional da Mulher. Não concordo muito com essas celebrações, porque acho que todo dia é dia da mulher, dia da mãe, do pai, das crianças... Mas a gente acaba indo no embalo e comemorando de alguma forma.

Aqui em Beijing fui convidada pra mais um evento social: eu e outras 1.200 pessoas. O evento, patrocinado pelo Governo Chinês, foi no Grande Salão do Povo - Rénmín Dàhuìtáng 人民大会堂 -  na Praça da Paz Celestial, e contou com a presença de mulheres de várias partes do mundo, que trabalham ou residem na China.  Nunca havia entrado naquele prédio, sede do Congresso Nacional, e onde os políticos, inclusive, estão reunidos até o dia 17, em discussões sobre o futuro do país, no processo que marca a troca do governo chinês.


O convite para o evento.

As grandes colunas da entrada já dão uma ideia do que vem pela frente lá dentro. O lugar é imponente, bonito e muito amplo. 


Foto da fachada do Palácio do Povo tirada em outra ocasião.

Logo que subimos as escadarias passamos pela revista habitual de segurança e nos dirigimos para o segundo andar do prédio. Lá, próximo às escadas, um enorme painel serviu de fundo para muitas fotografias das visitantes.


O hall de entrada.


Em frente ao enorme painel.


A mulherada foi recebida no Salão de Banquetes e acomodada em mesas redondas com 10 lugares.

Foi uma recepção muito rápida – durou apenas uma hora. Às três da tarde começaram os discursos. Foram dois, de duas senhoras dos comitês responsáveis pelo evento.

Em seguida um pequeno show que contou com a apresentação de uma dupla de acrobáticos – como sempre fantásticos em suas performances – números de óperas chinesas e italiana – também pra variar, né? – e apresentação de danças típicas. Um dos momentos mais animados foi quando um grupo afro subiu ao palco e dançou ao som do Waka-Waka com a cantora colombiana Shakira – bem que podiam ter convidado ela também, pra ficar mais autêntico! Eu e minhas duas amigas brasileiras - Cristiane e Cinara - estávamos sentadas justamente com quatro africanas e três senhoras do leste europeu.  Quando ouvimos a música, começamos a bater palmas, no que fomos seguidas por quase todas as outras pessoas do salão. Logo os fotógrafos e cinegrafistas presentes vieram pra tirar fotos e registrar nossa animação! As chinesas nos olhavam com sorrisos no rosto. Acho que elas não estão acostumadas com esse tipo de reação, mas gostam quando veem a animação das pessoas.

Palco montado no Grande Salão de Banquetes.



Eu e Cinara com as africanas e as europeias. 



Não houve nenhum banquete, pelo contrário: serviram um chá verde e um pratinho com um mini salgado e uma mini mini tortinha. Tudo muito simples. Tomei tanto chá que acho que emagreci um pouquinho!

Às quatro da tarde acabou a festa e nos levantamos para ir embora. “Evento ticado”, como dizemos por aqui.



Tudo muito amplo.


Uma das saídas do Grande Salão do Povo.


Do lado de fora a poluição que insiste em castigar Beijing.



O Grande Salão do Povo fica aberto às visitações e como minha ida ali foi muito “superficial”, pretendo voltar para conhecer o lugar. Só acho que vou ter que esperar essas reuniões do Partido acabarem, caso contrário não vou poder conhecer todos os salões do palácio.